Direito de Amar – Artina Films, 2009

O que fazer quando se perde aquele com quem deveria ficar para sempre? Como se recuperar da morte de um grande amor? Ou, aprofundando um pouco mais os questionamentos, como viver depois que tudo perde o sentido? Talvez sejam essas as questões que pairam na cabeça do professor George Falconer (Colin Firth) após a morte de seu parceiro por 16 anos, Jim (Matthew Goode). Para George, já não importa mais viver em uma América assombrada pela ameaça comunista e no auge da Crise dos Mísseis. E assim decide que não vale mais a pena seguir em frente. Neste contexto temos o comovente Direito de Amar (A single man), dirigido pelo estilista Tom Ford – e quem diria, um fashionista sabe sim como dirigir, e bem, um filme.

A fotografia de Ford é ótima, explorando muito bem as cores – o olhar cinza de George consegue ver o colorido do mundo por breves momentos, nos poucos instantes em que a vida volta a ter algum sentido. E como não podia deixar de ser, o figurino é impecável, especialmente os trajes do personagem principal.

Na época do lançamento do filme lembro-me de algumas críticas em relação ao fato de que mesmo passando por tanto sofrimento, os trajes de Colin Firth no longa estavam sempre perfeitamente alinhados. Isso é um detalhe um tanto quanto insignificante (o diretor é um estilista! O que esperar disso?!), já que nada disso tirou o brilho da atuação de Firth como um professor sóbrio, gay – em plenos anos 60 – e em uma dor excruciante. Os silêncios preenchidos com aquela música melancólica, os olhares de desespero em vista de uma vida que não existe mais, o sofrimento contido, são detalhes de uma performance que só poderia ser realizada por um grande artista. Não posso comparar ainda o desempenho de Firth com o de Jeff Bridges, ganhador do Oscar de melhor ator no ano passado por Coração Louco (Crazy Heart) e concorrente do ator britânico nessa categoria, mas posso dizer, pelo menos, que Firth merecia o reconhecimento de estar entre as melhores interpretações masculinas do ano passado.

O que me incomodou um pouco foi a tentativa de fazer o filme uma obra de arte. Alguns takes em câmera lenta, diversos closes, cenas que remetem a coisas incompreensíveis em um primeiro momento; detalhes que podem parecer um pouco de arrogância do diretor ao tentar tratar o longa como um joia muito cara e fina quando apenas a presença angustiada de George já é mais do que suficiente para demonstrar o primor do produto. Sim, eu sou adepta do menos é mais, e acredito que um roteiro bem feito é a base de todo e qualquer filme. Uma bela fotografia ajuda, mas a história tem que ser o chamariz, e não os efeitos. Felizmente, tudo isso não toma uma proporção maior do que deveria e as qualidades de Direito de Amar, no final, são o que ficam para o espectador. Talvez as pessoas se decepcionem com o final (que eu não vou contar), mas creio que não poderia ser de outra forma. O que permanece  é a lição, não importa quanto tempo se aproveitou dela. E claro, com temas como morte e, principalmente, a vida depois da tragédia, não é um filme recomendado para aqueles que procuram um entretenimento leve e divertido. Direito de Amar faz você pensar e sentir, e por isso mesmo é um grande filme.

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